sábado, 28 de fevereiro de 2009

Quatro presos por matar investigador

E como era de se esperar, em pouco mais de um dia e meio o setor de investigação da polícia civil do estado de São Paulo consegue localizar os quatro jovens envolvidos diretamente na morte de Agenor Donizete Ferreira, de 42 anos.



25 de fevereiro de 2008, 22h55, neste momento o ônibus em que estou está a menos de 60km/h na Avenida Luiz Inácio de Anhaia Melo, na Vila Prudente, na zona leste de São Paulo. Provavelmente estou dando um cochilo e ouvindo meu MP3 player comprado na Santa Ifigênia. No mesmo instante, mas extremo norte da capital, mais precisamente na rua Josino Vieira de Gois, no Tremembé, quatro homens entram em uma lan house como clientes. Um deles, com moleton e com um chapéu modelo “Carlitos Tevez”, senta na segunda cadeira do lado esquerdo da porta. Os outros vêm logo atrás. Também como não querem nada, mas na cabeça deles já está tudo esquematizado. “Entramos, roubamos os computadores, celulares e fugimos em uma Kombi que vai ficar estacionada bem próxima ao local do roubo”. Poucos minutos depois de se acomodarem anunciam o assalto. Eles começam a fazer um arrastão entre os poucos clientes (cerca de 6) e já desligam os computadores para levá-los. Estava tudo dando certo, como planejado.

A dona do estabelecimento não está no momento do assalto, mas o filho dela sim: um investigador da polícia civil encarregado do Grupo de Motos do Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado (DEIC), separado e pai de dois filhos. Ele vê que um dos bandidos está com um calibre 38 e tenta desarmá-lo. As câmeras do circuito de segurança não registram o momento do disparo, mas segundo uma testemunha, o bandido simplesmente colocou o revólver na cabeça do policial e atirou. Agora os assassinos saem correndo apenas com os pertences dos clientes. O investigador Ferreira ainda foi socorrido e levado ao Hospital Municipal São Luiz Gonzaga, mas não resistiu aos ferimentos.

Já na redação vejo no nosso sistema de notícias a informação que um homem, até então sem profissão divulgada, morreu dentro de uma lan house na zona norte. Por volta da 0h30 peguei a viatura modelo Gol e saí em direção ao bairro do Tremembé. Depois de uma hora cheguei ao 73º distrito policial do Jaçanã, localizado na Avenida Paulo Lincoln do Valle Pontin. Logo de cara noto que a coisa é grande, penso: “Por que tantos policiais do Garra"? Pelas minhas contas, apenas no DP estavam 20 policiais. Cerca de 6 viaturas caracterizadas e mais 4 descaracterizadas que chegaram depois. Na delegacia “informação apenas com a autoridade policial”. E cadê o doutor, pergunto: “Na rua, no caso do policial. É esse, né?”. Está aí a resposta. Quando alguma coisa acontece a um policial, parece que todos os tiras de São Paulo são mobilizados para “achar os caras que mataram nosso amigo”.

Saio do DP e vou ao local do crime. Antes de chegar, passo perto do Cemitério do Tremembé (que teve uma função importante nas investigações). No local dos fatos, apenas dois PMs preservando o local e mais de 15 policiais do Garra (+ os que estão na delegacia = 35). Peço para olhar o local do crime: “Garoto, fica só na porta. Não entra!”, disse um dos PMs. Há um rastro de sangue que começa no fundo da lan house e termina já no lado de fora. Todo cuidado para não pisar naquele risco vermelho. Converso com o delegado do Garra, que passa tudo que aconteceu, mas não grava. Ele deixa claro que logo os bandidos estariam na cadeia. Volto para o carro, ligo para o estúdio e dou o caso no ar.

No outro dia, por volta da 0h00, recebo a ligação de um repórter do ABC dizendo que prenderam um rapaz acusado de estupro. Fui passar a informação para outros colegas. O primeiro que ligo, no caso um repórter fotográfico, dá a notícia: “Cara, estamos indo para Guarulhos porque parece que prenderam três caras que mataram o investigador”. Antes de chegar na redação, passo no estacionamento e já pego a viatura 481. O DEIC já havia divulgado as imagens do circuito de segurança e, com isso, conseguiram localizar “os malas”. Dei uma olhada nas fotos, enviadas por e-mail, e saí.

Depois de quase três horas de chá de cadeira – mas muito bem tratados – nós da imprensa fomos atendidos pelo delegado Douglas Dias Torres. Os policiais civis, todos orgulhosos, mostram o 38 apreendido com “cinco” balas intactas e uma deflagrada. A arma foi localizada dentro do Cemitério do Tremembém, poucas quadradas do local dos fatos. Ela teria sido jogada pelo muro por um dos criminosos, no caso o menor. A polícia ainda informou que as roupas que os rapazes usaram no momento do crime também foram apreendidas. Elas não foram divulgadas para a imprensa que estava na delegacia. Os maiores, um deles com o rosto inchado e com um pouco de sangue, são levados para a sala do doutor para serem fotografados, filmados e interrogados pelos repórteres.

Depois, o delegado Douglas Dias Torres grava com os jornalistas:

Repórter B: “Como a polícia conseguiu chegar a esses homens”?

Delegado Douglas Dias Torres: “A partir do crime, nós obtivemos algumas informações que davam conta que esses autores eram da região. A partir daí foram feitas algumas diligências. Os policiais conseguiram localizar um deles como um dos autores. E a partir dalí foi dada uma sequência que desencadeou na prisão dos três.

Repórter G: “Mas essa investigação foi graças às imagens do sistema de segurança que localizou os bandidos”?

Delegado Douglas Dias Torres: “Com certeza. Foi um fator importante que auxiliou muito o trabalho investigativo.

(...)

Repórter B: “ O senhor solicitou exame residuográfico”? (teste realizado para localizar possíveis vestígios de pólvora nas mãos da pessoa que disparou uma arma de fogo)

Delegado Douglas Dias Torres: “Não”.

Encerra a coletiva.

Em miúdos: os tiras conseguiram localizar a residência de Bruno Thiago Gabriel da Silva, de 18 anos, por meio de “investigação e denúncia anônima”. Ele foi preso e “dedurou” o paradeiro de Fernando Henrique Matayaosi Lopo, de 21 anos (Fernando foi localizado apenas na tarde do dia 27/11). Como a prisão do rapaz não ocorreu naquele momento, os homens do Garra foram na casa do adolescente A.O.V, de 17 anos. Dessa vez foi A.O.V. que disse o paradeiro da próxima vítima dos policiais: Igor Pereira Martins, de 21 anos. A mãe do jovem também foi para a delegacia por desacato à autoridade, mas responderá em liberdade.

Todos moram no Jardim Palmira, bairro da periferia de Guarulhos, que fica às margens do Km 82 da rodovia Fernão Dias.

Mas afinal, quem atirou contra o investigador? Todos jogaram a culpa no menor, pois sabem que a pena para menores de 18 anos aqui no Brasil é branda. E será difícil descobrir, porque não será feito o residuográfico. Uma testemunha - no caso uma mulher - viu o momento do único disparo. O depoimento dela não foi divulgado. Procurada, não comentou o caso com a imprensa.

Bruno Thiago Gabriel da Silva (18), Fernando Henrique Matayaosi Lopo (21) e Igor Pereira Martins (21) foram indiciados por roubo, homicídio, formação de quadrilha e corrupção de menores. Já A.O.V (17) foi levado para uma unidade da Fundação Casa, a antiga Febem, e logo estará na rua. O indivíduo que dirigia a Kombi, que era o encarregado de levar os computadores caso o assalto fosse “bem sucedido”, ainda não foi localizado. Mas as buscas continuam.
Mas será que as buscas continuariam caso a vítima fosse algum morador comum do Jardim Palmira?

Saudação

Olá,
Esse é o primeiro post do Câmera Mecânica. Daqui pra frente você será informado de tudo quanto é coisa que acontecer.
Boa leitura.