quinta-feira, 17 de junho de 2010

Bastidores de um plantão

Enquanto você dormia...

Sempre perguntam: Quem trabalha na madrugada? Muita gente? Normalmente quando respondo “sim”, alguns desconfiam. Uma cidade como São Paulo realmente não dorme, por isso, as emissoras possuem equipes nesse período do dia.

Essa foto foi tirada dia 17/06/10 pelo cinegrafista Tanaka (Band) por meio de seu celular, em um plantão no 5º DP Aclimação.

Claro, essa é uma pequena parte da imprensa paulistana que trabalha nas ruas enquanto grande parte da população dorme.



Tiago (Globo), Alexandre (CNT Curitiba), Ricardinho (Record), fotógrafo da Folha novo na área, Eliezer (Rádio Bandeirantes), Neilton (Globo), JB Neto (Estadão/JT), João (Record), Bittencourt (Band), Hélio (CNT Curitiba), Gio (Diário de S. Paulo), Arthur (Globo) e Bruno (Estadão/JT).

terça-feira, 1 de junho de 2010

Momento de descontração IV



A foto acima foi tirada 31/05 às 15h00 no estacionamento do Shopping Metrô Itaquera. “Não transite pela pista de veículos”, caso contrário... detalhe para a ilustração.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ao vivo

Em algumas matérias, 1 segundo de “sonora” fala mais que 1 minuto na fala do repórter/locutor. Esse caso é um exemplo.

O delegado Clayton Leão, titular da 18ª Delegacia de Camaçari, dava uma entrevista ao vivo, por telefone, à Rádio Líder FM, na Bahia, quando foi assassinado.

Ouça o áudio

Até o momento, dois suspeitos foram presos.


Nota de rodapé adicionada no dia 29/05/10: a polícia prendeu o terceiro suspeito e diz que o caso está encerrado. A ocorrência foi tratada como latrocínio - roubo seguido de morte - e não execução.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Todos contra 1

Um acidente. Uma criança morre atropelada por uma lotação. Populares agridem o motorista. Clima de revolta na rua. Choro. Pai, mãe e irmã revoltados.
E o outro lado? Como fica?


Noite do dia 24 de maio de 2010. Décio Eduardo de Barros Vargas, de 26 anos, dirige o micro-ônibus da Cooperativa Consórcio Unicoopers pela Rua Roque de Mingo, região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Ele faz a linha 746V, que liga o Jardim Rebouças a Santo Amaro. Há passageiros no coletivo, mas não sabemos ao certo quantos. Ao descer a rua, que na verdade é uma ladeira, se depara com uma criança em sua frente. Ele só ouve o barulho da colisão, pisa no freio, mas o veículo só vai parar cerca de 20 metros depois por causa do vácuo do sistema de frenagem. Rebeca Góis de Araujo, de 10 anos, morre na hora. As marcas da freada e do sangue da jovem ficam no chão. Os moradores agridem o motorista e quebram os vidros da janela do ônibus. O pneu dianteiro direito é furado. O massacre só não foi maior por causa da chegada da polícia.



Quando chego ao local, por volta das 2hs da manhã, e o clima é de desespero por parte de familiares e vizinhos. Muito choro e desabafo. Uma testemunha que entrevisto afirma que o motorista descia em alta velocidade, desviou de um ônibus e atingiu a menina que estava na rua, mas bem perto da calçada. Outros juram que viram uma mulher sentada no colo do motorista, enquanto o veículo descia em rapidamente. A mãe, revoltada, desabafa vários palavrões durante a entrevista e chora muito. O único mais racional é o pai, que “espera a decisão da justiça”.

Tudo contra o motorista, e claro, a situação nos comove. Por instinto, somos levados a acreditar apenas na versão que nos é apresentada naquele momento.

Mas, e a versão do motorista? Como fica nessa situação? Vamos à delegacia para tentar conversar com ele e com alguma autoridade policial. O delegado Fábio Antunes de Araújo nos atende e passa o que foi levantado por ele. “Duas testemunhas foram trazidas à delegacia para prestar depoimento. Uma – que estava na outra calçada – afirma que realmente a menina atravessou a rua e olhou apenas para um dos lados, quando tentou voltar já era tarde. A jovem não viu o ônibus que vinha do outro lado. A testemunha não soube afirmar sobre a velocidade do veículo. A segunda testemunha – e principal - é a namorada do motorista, que estava com ele na frente do micro-ônibus. A mulher disse em depoimento que o carro estava lotado e que ela realmente estava na frente, mas não conversava com o condutor. Além do mais, nega que estava sentada no colo, nem no motor do coletivo.”

Nesse momento o delegado fala algo importante, que às vezes passa despercebido nesse tipo de cobertura. “Eu fui ao local e comecei a colher os dados. Conversava com um e ele afirmava que o motorista estava em alta velocidade. Então perguntava: você estava na rua no momento do acidente? A resposta era não. Então, como você sabe que o ônibus estava rápido? Não sabia responder. Por isso não posso ir pela emoção, mas sim pela razão, sendo assim, trouxe para a delegacia apenas duas testemunhas”.



Logo depois o motorista topa dar entrevista e apresenta sua versão dos fatos. Ele confessa que estava conversando, mas dirigia devagar, no limite da via. Negou que estava desconcentrado. Disse que o ônibus arrastou a menina porque a lotação não parou instantaneamente. Afirmou que tentou prestar socorro, ligando duas vezes para o 190, mas foi impedido pelos populares de sair do coletivo. Se saísse, seria linchado.

Então, quem está com a razão? O resultado da perícia sai em 30 dias. Vamos ver...

* Com relato de testemunhas, polícia militar e civil e envolvidos no fato.
** Fotos de Eliezer dos Santos e Magrão CGP

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Os animais da madrugada

É comum em algumas delegacias da Grande São Paulo encontramos alguns animais. Sim, vários deles. De todos os tipos e tamanhos. Nervosos e calmos.

Por isso resolvi postar no Câmera Mecânica alguns desses bichos. Só vai faltar o cavalo da delegacia do Jardim Herculano (100ºDP) da zona sul de São Paulo, que fica junto a um pasto, e a matilha da delegacia de Heliópolis (95ºDP). Fico devendo, mas publicarei aqui em uma nova oportunidade.


Esse cachorro estava na porta do 10º DP de Osasco, na Grande São Paulo, na madrugada do dia 24/05. Estávamos apurando o tiroteio no acesso da Marginal do Tietê à Rodovia Castello Branco quando ele apareceu. Muito manso.




Quem flagrou esse outro cão foi o repórter Tiago Maranhão na delegacia do Brás/Belém durante a cobertura da agressão a um casal de idosos durante tentativa de assalto.




Quem quiser ver essas carpas é só dar um pulo na “delegacia zen” do Carandiru (9ºDP), aquela do caso Isabella Nardoni. O registro também foi feito pelo companheiro da madrugada Tiago Maranhão.




Já esse outro aqui é o mais querido de todos. Repórteres, prostitutas, policiais, técnicos da Sabesp, Eletropaulo, CET, moradores em situação de rua, travestis, punks, emos, pagodeiros, cafetões etc. O pernil do Estadão. Um porco dos bons, que nunca deixou ninguém na mão.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Momento de descontração III

Venda de TVs em alta, botecos lotados, ponto facultativo em dia de jogo do Brasil... pois é, isso é a Copa do Mundo. O país vive futebol...



Já que dessa vez o primeiro jogo do dia será às 8h30min, nessa hora já estarei em casa ou em algum boteco da capital paulista. (Lembro muito bem do mundial Japão e Coréia do Sul, passava a madrugada acordado. Bem, algumas coisas não mudam, né?)

Em clima de Copa do Mundo, resolvi postar as frases dos ônibus que levarão as seleções aos estádios africanos, como de praxe.

Eu gostei da frase do ônibus holandês, e você?


África do Sul: “Uma nação orgulhosamente unida sob um arco-íris”

Alemanha: “No caminho para pegar a Copa”

Argélia: “Estrela e crescente com um objetivo: vitória!”

Argentina: “Última parada: a glória”

Austrália: “Ouse sonhar, avante Austrália”

Brasil: “Lotado! O Brasil inteiro está aqui dentro!”

Camarões: “Os leões indomáveis estão de volta”

Chile: “Vermelho é o sangue do meu coração: Chile campeão”

Coreia do Norte: “1966 de novo! Vitória para a Coreia do Norte!”

Coreia do Sul: “O grito dos vermelhos: República da Coreia”

Costa do Marfim: “Elefantes, vamos lutar pela vitória!”

Dinamarca: “Tudo o que você precisa é a seleção dinamarquesa e um sonho”

Eslováquia: “Sacuda o gramado verde: vai, Eslováquia!”

Eslovênia: “Com 11 bravos corações até o fim”

Espanha: “Esperança é meu caminho. Vitória, meu destino”

Estados Unidos: “Vida, liberdade e a perseguição pela vitória!”

França: “Todos juntos pelo novo sonho em azul”

Gana: “A esperança da África”

Grécia: “A Grécia está em todo lugar!”

Holanda: “Não tema os cinco grandes, tema os 11 de laranja”

Honduras: “Um país, uma paixão e cinco estrelas no coração!”

Inglaterra: “Jogando com orgulho e glória”

Itália: “O nosso azul no céu africano”

Japão: “O espírito do samurai nunca morre! Vitória para o Japão!”

México: “É o tempo de um novo campeão!”

Nigéria: “Super Águias, supertorcida unidos estamos”

Nova Zelândia: “Chutando no estilo Kiwi”

Paraguai: “O leão guarani ruge na África do Sul”

Portugal: “Um sonho, uma ambição: Portugal campeão!”

Sérvia: “Jogue com o coração, lidere com um sorriso!”

Suíça: “Força, Suíça! Vamos, Suíça!”

Uruguai: “O sol brilha sobre nós. Vamos Uruguai!”

5 por 1

Madrugada como a de hoje é 1 em 365 (ok, 366 em ano bissexto). Fechamos cinco casos, isso mesmo, cinco casos policiais fortes, que renderam repercussão.

Tudo começou com a prisão de um bandido que invadiu a residência de um casal de idosos, na Mooca, zona leste de São Paulo, e o agrediu. Dois conseguiram escapar.

O crime foi por volta das 20hs do dia anterior. Eu chego na delegacia do Belém/Brás à 1h. Com o gravador com as pilhas “arriando”, faço um falso ao vivo com o delegado (coisa rara delegado gravar durante a madrugada) e coloco no ar. Ufa. Um pronto.

Durante a entrevista o escuta liga e diz que tem uma nova ocorrência, um pouco longe, no primeiro distrito policial de Santo André. Um homem procurado, suspeito de matar um executivo no começo do ano, é detido dirigindo um Passat velho. Quando chego por lá, por volta das 2hs, toda a imprensa já está a postos. Devagarzinho, devagarzinho, no meio daquela “muvuca” de policiais militares consigo encontrar o soldado que estava na ocorrência. Gravei via celular, porque neste momento as pilhas do meu gravador já morreram, e o segundo caso está fechado.

(Logo depois, ocorre a coletiva com esse policial, mas como já havia fechado minha entrevista, participei como cinegrafista, isso mesmo, um repórter de rádio com uma filmadora na mão, mas com um bom propósito: ajudar um de nossos colegas que está fazendo freela).

Conversas sobre maquiagem para lá, conversas de como pentear o cabelo para lá (sim, os repórteres de TV conhecem bem o assunto) surge uma nova pauta: quadrilha invade o Carrefour da Vila Jacuí e fazem 10 funcionários reféns. Questionamentos: “Meu, onde fica mesmo o 63º DP”? “Zona leste.” “Putz, longe... mas o caso é bom”. “Vamos”.

Quando saía da delegacia de Santo André em direção à ZL, o escuta – graças a Deus – consegue o número do celular do tenente da PM responsável pelo caso. “Vamos entrar ao vivo na RB, tenente?” “Claro”. Ou seja, entrevista ao vivo por telefone e terceiro caso solucionado.

Mas quem disse que a madrugada acabou? Pois bem, volto à redação e vejo o escuta da TV um pouco nervoso, um pouco chateado. “Cara, roubaram a nossa equipe da madrugada na porta do Carrefour. O “mala” levou a câmera (+/- 250 mil reais) e alguma coisa do repórter e do cinegrafista”. O quarto caso está aí. Ainda bem, nenhum dos dois amigos não ficaram feridos.

E o quinto? Bem, esse fechei pela redação mesmo. Um menino de nove anos foi vítima de uma bala perdida durante troca de tiros entre “menores infratores” e policiais militares na região do Tremembé, zona norte. Não rendeu sonora, mas uma fonte na PM passou o caso e aí sim, acabou por hoje.

Acabaram as matérias, mas tive que entrar ao vivo no Datena às 10h20min e ficar na redação até as 13hs por causa da reunião da Copa do Mundo.

Isso é mais um dia na vida de um repórter... mas o repórter que falar que não gosta dessa correria, não é repórter de verdade.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Renato e Renato

Dois crimes. Duas pessoas. Dois nomes iguais. Destinos diferentes.

Renato de Holanda Bessa Junior tem 26 anos, morador de Boa Vista, capital de Roraima. Boa condição financeira - aliás, o pai é capitão reformado da polícia militar do Estado. Ele é atraído pelo dinheiro fácil e entra para o tráfico de drogas. Renato foi preso ontem à tarde após uma emboscada feita por policiais civis, que o seguiam há aproximadamente dois meses, transportando 100 quilos de cocaína no fundo falso da caçamba de uma caminhonete com placas de Maringá. Ele trazia os entorpecentes do Paraná e entregaria em São Paulo. O valor para realizar o transporte: US$10 mil. Destino: Cadeia.

Ouça

Renato Alves da Silva tem 31 anos, morador do bairro Guaianazes, na zona leste de São Paulo. Não tem uma boa condição financeira. Renato passou parte da vida na cadeia. Há três meses foi liberado. Como o outro Renato, esse aqui também é especializado em transporte, mas de passageiros. Todos os dias ele leva e trás várias pessoas entre o Jardim São Paulo e a Estação Corinthians-Itaquera do Metrô. Renato agora é motorista em uma cooperativa de ônibus da capital. Ontem à noite, logo após a última viagem, ele foi executado dentro da lotação em que trabalhava. O atirador fugiu. Destino: (...)

Ouça


*Esses foram os dois casos que cobrimos na madrugada do dia 17/05/10
** Com informações da polícia civil, militar e testemunhas

quarta-feira, 5 de maio de 2010

...depois da pauta... o papo

Este flagra é do repórter fotográfico JB Neto / AE. A foto foi tirada logo depois da entrevista com o delegado Carlos Alberto Delaye, do 92º DP (Parque Santo Antônio), que nos deu mais detalhes sobre a execução de um escrivão, da mesma delegacia, dentro de um bar no Capão Redondo.



A foto foi tirada exatamente na Rua Francisco Passarini, por volta das 2hs do dia 04/05/2010, um dia antes do meu aniversário de 23 anos, durante uma conversa informal na porta da igreja, que não sei o nome.

Na película temos o fotógrafo Lumi Zunica (Diário de S. Paulo), que ainda está fora da conversa (rs), Eliezer dos Santos (Rádio Bandeirantes), Gio "bunda" Mendes (Diário de S. Paulo), Rogerio Lacanna (Folha de S. Paulo), que está escondido, e Bruno Lupion (Jornal da Tarde).

Pois é, essa cena fez recordar o refrão "Acorda sangue bom, aqui é Capão Redondo, tru, não pokemon, Zona Sul é invés, é stress concentrado, um coração ferido, por metro quadrado..." (Vida Loka II / Racionais MCs)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Verbo: Engolir

Na madrugada da última segunda-feira fiz a história de um casal de colombianos que engoliu cerca de 70 preservativos cheios de cocaína. Estava de passagem pelo Brasil e tinha como destino Israel, mas a natureza falou mais alto e o plano foi por privada abaixo.

Na noite de terça-feira, uma estudante universitária foi atingida na boca durante tiroteio entre PM e bandidos em frente ao portão 10 do Parque Ibirapuera, perto da Assembleia Legislativa. Por incrível que pareça, a jovem engoliu a bala, literalmente.

No caso dos colombianos, os pacotinhos (que não eram tão pequenos assim) saíram naturalmente.

No caso da universitária, que passa bem, a polícia aguarda o projétil para analisar de onde o mesmo partiu: da arma do bandido ou do soldado. O resultado sai em aproximadamente 30 dias.

Silva Bueno x Lord Cochrane

No começo do mês sofri meu primeiro - e espero que seja o último - acidente automobilístico. Para não bater na lateral de um carro que entrou na contramão, fui obrigado a jogar o meu Celta na frente de outro veículo. Choque frontal. Baita burocracia. Seguro acionado. Carro da “vítima” concertado. O “terceiro” fugiu. Paguei a franquia (muito cara), mas melhor assim, porque ninguém ficou ferido.

Madrugada de quinta-feira (22/04) fui acionado para fazer a suíte de um acidente de trânsito no Ipiranga. Acidente feio envolvendo um ônibus e quatro carros. Duas mulheres não tiveram sorte.


Final da tarde de quarta-feira, 21 de abril de 2010, feriado nacional em memória a Tiradentes. Ao volante do Fiesta preto está Adriana Carvajal de Oliveira, de 45 anos. No banco do carona está a mãe, Piedade Carvajal, de 70 anos. No banco traseiro brincam um menino de 11 meses, um de 7 anos e uma mulher de 44 anos.

No mesmo momento, Antonio Pádua dirige um ônibus verde e branco, da viação ViaSul, número 51814. O veículo saiu da Praça do Correio, no centro, e tinha como destino o Terminal Sacomã, na zona sul.

Como o trânsito na cidade estava livre, Antônio aproveita para ganhar tempo e às vezes pisa um pouco mais forte no pedal da direita.

O veículo, com aproximadamente 10 passageiros, segue pela Rua Silva Bueno. Poucos metros de chegar ao cruzamento com a Lord Cochrane, o semáforo a sua frente fica amarelo. Antonio Pádua acelera. A luz vermelha do “farol” acende. Antonio Pádua continua com o pé no acelerador.

Em uma fração de segundos, aparece em sua frente o carro guiado por Adriana Carvajal. A mãe dela, que está à sua direta, apenas ouve o barulho de uma freada brusca. Mais nada. A motorista do carro ainda percebe quem a atingiu, mas também não consegue fazer nada além de um leve olha à direita, por instinto. Os médicos constatam a morte no local.

O ônibus, agora desgovernado, ainda destrói um Escort vinho e bate em um Renault Clio azul e uma Ford Ranger preta. Os três veículos estavam estacionados na altura do 1.640 da Silva Bueno, mas sem ocupantes.

No banco traseiro do Fiesta ainda há o desespero das duas crianças e da mulher. Os três são socorridos e levados às pressas à Santa Casa de Misericórdia, gravemente feridos.

Agora que cai a ficha de Antonio. Agora cai a ficha das testemunhas, que em um primeiro momento tentaram linchar o motorista do ônibus. O homem teve que ser levado não ao hospital, mas sim à delegacia de número 17, que fica próxima ao local do acidente.

Chego ao distrito policial por volta da 1h do outro dia, para fechar uma suíte do caso (dar um passo a frente na história). Do nada aparece uma testemunha no DP em um Fiesta, vestido com a camisa do SPFC, no qual gera uma entrevista.

Aguardo a saída do motorista Antonio Pádua, o que não ocorre com a presença da imprensa na porta da delegacia. Mas, óbvio, saiu. Com o pagamento de R$ 1.230,00 ele é liberado e responderá o processo em liberdade pelo homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

Ao lado da porta por onde passa o motorista do ônibus, na saída da delegacia, está estacionado o Fiesta preto, todo destruído.

O olhar é inevitável.

*texto baseado no relato de testemunhas.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O último voo do "Águia"

Helicóptero da Record, o Águia Dourada, cai no início da manhã (10/2) em uma área gramada do Jóquei Clube de São Paulo, na zona oeste da capital. Um morto e um ferido.

Águia Dourada: “Sobrevoando a região do Morumbi, com vocês”

Globocop: “Ok”

A conversa é entre o piloto Rafael Delgado Sobrinho, que está com o cinegrafista Alexandre “Borracha” no Águia Dourada, e Dato de Oliveira, que comanda o Globocop. Ambos sobrevoam, lado a lado, a Avenida Morumbi, na zona sul de São Paulo.

Águia Dourada: “Dato, eu estou com problema no rotor de cauda e não consigo manter a proa. Estou indo lá para o Jóquei”

Globocop: “Tenta fazer um pouso corrido (igual ao feito pelos aviões)”

Águia Dourada: “Vou tentar”

50 metros sobre o Jóquei Clube, o helicóptero modelo Esquilo prefixo PT – YRE começa a girar, sem rumo, no céu paulistano. Uma, duas, três, quatro, cinco voltas. Começa a sair fumaça e combustível. Seis, sete, oito. Violentamente a aeronave bate no chão gramado de um dos acessos do jóquei. A hélice gira e quebra ao colidir com o solo. O piloto Rafael Delgado Sobrinho morre no banco direito. O companheiro, ainda consciente, coloca os braços para fora e pede ajuda. A cena é filmada do alto, a todo o momento, pelo Globocop, que pousa segundos depois. Dato desce e presta os primeiros socorros.

Mais uma madrugada com casos normais, até parada por sinal. Fecho rapidamente um boletim sobre a apreensão de mais de 800 cartões clonados em Heliópolis, além da prisão de um homem, duas mulheres e a apreensão de uma adolescente. Entrevista com o investigador, fichinha. No final da madrugada, lá pelas seis horas, faço a última ligação para o Copom e quem atende é o sargento Osni, que já acostumado informa que “está tudo tranquilo na cidade, nenhuma ocorrência”. Duas entradas no Pulo do Gato, conhecido na redação pela abreviação PUL, e quase fim do dia.

Mando o relatório para a chefia de reportagem com os dizeres “temos apenas um caso hoje...”. Explico o que rolou e o ponteiro do relógio já quase marcando sete horas.

Daí para frente... o fim do dia se transforma, na verdade, no começo.

Uma das seis TVs da redação está no BDSP e outra na Record. De cara um link na Avenida Morumbi. A repórter informa: “Criminosos fazem reféns em comércio e usam uma carreta para furtar caixas eletrônicos de uma agência do Unibanco...”. No banco da chefia: “Eli...você tem isso?”.

“Merda, isso foi às 4h15 e a PM segurou até as 6h01”, penso. Pego rapidamente os dados com a PM por telefone, passo para o repórter que está chegando ao local e acabou. “Vou para casa”.

Como a Avenida Morumbi está interditada, as emissoras de TV utilizam seus helicópteros para dar a dimensão do congestionamento. O da Record sai rapidamente e o da Globo continua, isso às 7h20.

Ás 7h34 faço logoff no PC e ouço uma das produtoras falando não sei com quem, mas comum tom carregado na voz: “Parece que caiu um helicóptero.”

Segundos depois, antes mesmo de colocar o traseiro na cadeira, olho a TV que está mais ao alto e aparece a imagem que ninguém queria ver...



“Onde”?, pergunta o chefe. “Jóquei”, respondo. “VAMOS LÁ, ELI”... nunca saí tão rápido da redação. Desço literalmente correndo os dois lances de escada que dão acesso ao hall da TV e mais um lance até o estacionamento. Chave na ignição. “Caneta, caderno,microfone, celular, tudo aqui...vão bóra (sic)”.

Pisca alerta ligado, buzina e muitos “SAI DA FRENTE”. Da redação ao jóquei, no horário de pico, uns 15 minutos. Fiz em 10.

Vejo um marronzinho na Avenida Lineu de Paula Machado, ao lado do portão do jóquie, e “posso deixar o carro aqui, na rua”. “Não”. “Pô meu, tô trabalhando, você não viu que caiu um helicóptero aí dentro”? “Ué, então coloca lá dentro”.

Não deu outra. Vejo a cancela aberta, ignoro a presença dos seguranças e estaciono o Focus Sedan lá dentro. “Oh oh oh...que palhaçada é essa. Quem mandou você entrar”? Curto e grosso, respondo. “A CET”. “E desde quando a CET manda aqui”. “Você tá tirando uma comigo? Entrei, mas estou falando com você na boa”.

Claro, fui convidado a sair a força, mas mesmo assim valeu uma entrada no jornal pelo celular.

Como o último retorno na Lineu de Paula Machado estava lá trás, foi obrigado a contornar todo o jóquei pela marginal e consegui deixar o carro em um posto de combustíveis, justamente em cima do tanque. Não vi e saí correndo até a portaria seis - uns 600 metros de distância. Mesmo assim sou o segundo a chegar, atrás da repórter da Capital AM.

A redação passa as informações iniciais e vamos para o ar novamente. A entrada ao jóquei ainda é bloqueada, mas encontramos uma fresta entre as grades que dá para ver parte do helicóptero. Nessa hora já estou acompanhado dos amigos das emissoras de rádio, TV e o pessoal do impresso e internet.

Os cinegrafistas e fotógrafos sobem em um muro de quatro metros de altura, do próprio jóquei, para fazer as imagens. Dez minutos depois, e depois de muito papo, a nossa entrada é liberada.

A primeira visão é terrível. A aeronave dourada com a parte frontal totalmente destruída, as hélices superiores quebradas e o corpo do piloto ao lado, já coberto com papel alumínio. No “campo do jóquei” outros dois helicópteros semelhantes. Um preto, da polícia civil, e outro azul, da Globo.

“E agora, quem vai falar”? O primeiro entrevistado é um dos enfermeiros que realizou o atendimento ao cinegrafista. “PRODUÇÃO...VAMOS AO VIVO. PODE PLUGAR”. Enquanto converso com ele o olho já está na próxima testemunha: um jardineiro que viu a queda. “Central, grava aí”.

Minutos depois encontro o piloto do Globocop, que está bastante abalado. Branco. Pálido. Ofegante. Ele fala sobre os minutos antes do acidente, as recomendações para o pouso de emergência, a tentativa do comandante de fugir da Marginal do Pinheiros, o último contato com o “amigo”. A queda. Descrição que, sinceramente, comove a mim e aos colegas jornalistas.

Entradas alternadas nas praças São Paulo e Porto Alegre.

A aeronáutica chega. O tenente coronel no telefone em um local de acesso proibido aos jornalistas, bem além do cordão de isolamento feito pelos policiais militares. Quando ele desliga o celular, não tenho outra escolha: “chamá-lo com um tom de voz superior ao utilizado nas conversas formais”, para não falar que sou obrigado a gritar para ele escutar.

Muito simpático, cumprimenta e, a entrevista que seria minha, vira coletiva de imprensa. Afinal, estamos todos no mesmo barco.

Última entrada, na abertura do Manhã Bandeirantes. “Tum...tum...”, apita o celular. No visor “bateria fraca”. A solução. “Mark (repórter da BandNewsFM), vou usar o seu telefone, é rápido. Cara, é a última entrada. Não pode dar errado”. “Tranquilo, é todo seu”.

Às 12hs, já na redação, fecho a edição com as sonoras colocadas por mim e pela produção, depois reunião de pauta, rango e casa, lá pelas 15hs.