quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ao vivo

Em algumas matérias, 1 segundo de “sonora” fala mais que 1 minuto na fala do repórter/locutor. Esse caso é um exemplo.

O delegado Clayton Leão, titular da 18ª Delegacia de Camaçari, dava uma entrevista ao vivo, por telefone, à Rádio Líder FM, na Bahia, quando foi assassinado.

Ouça o áudio

Até o momento, dois suspeitos foram presos.


Nota de rodapé adicionada no dia 29/05/10: a polícia prendeu o terceiro suspeito e diz que o caso está encerrado. A ocorrência foi tratada como latrocínio - roubo seguido de morte - e não execução.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Todos contra 1

Um acidente. Uma criança morre atropelada por uma lotação. Populares agridem o motorista. Clima de revolta na rua. Choro. Pai, mãe e irmã revoltados.
E o outro lado? Como fica?


Noite do dia 24 de maio de 2010. Décio Eduardo de Barros Vargas, de 26 anos, dirige o micro-ônibus da Cooperativa Consórcio Unicoopers pela Rua Roque de Mingo, região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Ele faz a linha 746V, que liga o Jardim Rebouças a Santo Amaro. Há passageiros no coletivo, mas não sabemos ao certo quantos. Ao descer a rua, que na verdade é uma ladeira, se depara com uma criança em sua frente. Ele só ouve o barulho da colisão, pisa no freio, mas o veículo só vai parar cerca de 20 metros depois por causa do vácuo do sistema de frenagem. Rebeca Góis de Araujo, de 10 anos, morre na hora. As marcas da freada e do sangue da jovem ficam no chão. Os moradores agridem o motorista e quebram os vidros da janela do ônibus. O pneu dianteiro direito é furado. O massacre só não foi maior por causa da chegada da polícia.



Quando chego ao local, por volta das 2hs da manhã, e o clima é de desespero por parte de familiares e vizinhos. Muito choro e desabafo. Uma testemunha que entrevisto afirma que o motorista descia em alta velocidade, desviou de um ônibus e atingiu a menina que estava na rua, mas bem perto da calçada. Outros juram que viram uma mulher sentada no colo do motorista, enquanto o veículo descia em rapidamente. A mãe, revoltada, desabafa vários palavrões durante a entrevista e chora muito. O único mais racional é o pai, que “espera a decisão da justiça”.

Tudo contra o motorista, e claro, a situação nos comove. Por instinto, somos levados a acreditar apenas na versão que nos é apresentada naquele momento.

Mas, e a versão do motorista? Como fica nessa situação? Vamos à delegacia para tentar conversar com ele e com alguma autoridade policial. O delegado Fábio Antunes de Araújo nos atende e passa o que foi levantado por ele. “Duas testemunhas foram trazidas à delegacia para prestar depoimento. Uma – que estava na outra calçada – afirma que realmente a menina atravessou a rua e olhou apenas para um dos lados, quando tentou voltar já era tarde. A jovem não viu o ônibus que vinha do outro lado. A testemunha não soube afirmar sobre a velocidade do veículo. A segunda testemunha – e principal - é a namorada do motorista, que estava com ele na frente do micro-ônibus. A mulher disse em depoimento que o carro estava lotado e que ela realmente estava na frente, mas não conversava com o condutor. Além do mais, nega que estava sentada no colo, nem no motor do coletivo.”

Nesse momento o delegado fala algo importante, que às vezes passa despercebido nesse tipo de cobertura. “Eu fui ao local e comecei a colher os dados. Conversava com um e ele afirmava que o motorista estava em alta velocidade. Então perguntava: você estava na rua no momento do acidente? A resposta era não. Então, como você sabe que o ônibus estava rápido? Não sabia responder. Por isso não posso ir pela emoção, mas sim pela razão, sendo assim, trouxe para a delegacia apenas duas testemunhas”.



Logo depois o motorista topa dar entrevista e apresenta sua versão dos fatos. Ele confessa que estava conversando, mas dirigia devagar, no limite da via. Negou que estava desconcentrado. Disse que o ônibus arrastou a menina porque a lotação não parou instantaneamente. Afirmou que tentou prestar socorro, ligando duas vezes para o 190, mas foi impedido pelos populares de sair do coletivo. Se saísse, seria linchado.

Então, quem está com a razão? O resultado da perícia sai em 30 dias. Vamos ver...

* Com relato de testemunhas, polícia militar e civil e envolvidos no fato.
** Fotos de Eliezer dos Santos e Magrão CGP

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Os animais da madrugada

É comum em algumas delegacias da Grande São Paulo encontramos alguns animais. Sim, vários deles. De todos os tipos e tamanhos. Nervosos e calmos.

Por isso resolvi postar no Câmera Mecânica alguns desses bichos. Só vai faltar o cavalo da delegacia do Jardim Herculano (100ºDP) da zona sul de São Paulo, que fica junto a um pasto, e a matilha da delegacia de Heliópolis (95ºDP). Fico devendo, mas publicarei aqui em uma nova oportunidade.


Esse cachorro estava na porta do 10º DP de Osasco, na Grande São Paulo, na madrugada do dia 24/05. Estávamos apurando o tiroteio no acesso da Marginal do Tietê à Rodovia Castello Branco quando ele apareceu. Muito manso.




Quem flagrou esse outro cão foi o repórter Tiago Maranhão na delegacia do Brás/Belém durante a cobertura da agressão a um casal de idosos durante tentativa de assalto.




Quem quiser ver essas carpas é só dar um pulo na “delegacia zen” do Carandiru (9ºDP), aquela do caso Isabella Nardoni. O registro também foi feito pelo companheiro da madrugada Tiago Maranhão.




Já esse outro aqui é o mais querido de todos. Repórteres, prostitutas, policiais, técnicos da Sabesp, Eletropaulo, CET, moradores em situação de rua, travestis, punks, emos, pagodeiros, cafetões etc. O pernil do Estadão. Um porco dos bons, que nunca deixou ninguém na mão.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Momento de descontração III

Venda de TVs em alta, botecos lotados, ponto facultativo em dia de jogo do Brasil... pois é, isso é a Copa do Mundo. O país vive futebol...



Já que dessa vez o primeiro jogo do dia será às 8h30min, nessa hora já estarei em casa ou em algum boteco da capital paulista. (Lembro muito bem do mundial Japão e Coréia do Sul, passava a madrugada acordado. Bem, algumas coisas não mudam, né?)

Em clima de Copa do Mundo, resolvi postar as frases dos ônibus que levarão as seleções aos estádios africanos, como de praxe.

Eu gostei da frase do ônibus holandês, e você?


África do Sul: “Uma nação orgulhosamente unida sob um arco-íris”

Alemanha: “No caminho para pegar a Copa”

Argélia: “Estrela e crescente com um objetivo: vitória!”

Argentina: “Última parada: a glória”

Austrália: “Ouse sonhar, avante Austrália”

Brasil: “Lotado! O Brasil inteiro está aqui dentro!”

Camarões: “Os leões indomáveis estão de volta”

Chile: “Vermelho é o sangue do meu coração: Chile campeão”

Coreia do Norte: “1966 de novo! Vitória para a Coreia do Norte!”

Coreia do Sul: “O grito dos vermelhos: República da Coreia”

Costa do Marfim: “Elefantes, vamos lutar pela vitória!”

Dinamarca: “Tudo o que você precisa é a seleção dinamarquesa e um sonho”

Eslováquia: “Sacuda o gramado verde: vai, Eslováquia!”

Eslovênia: “Com 11 bravos corações até o fim”

Espanha: “Esperança é meu caminho. Vitória, meu destino”

Estados Unidos: “Vida, liberdade e a perseguição pela vitória!”

França: “Todos juntos pelo novo sonho em azul”

Gana: “A esperança da África”

Grécia: “A Grécia está em todo lugar!”

Holanda: “Não tema os cinco grandes, tema os 11 de laranja”

Honduras: “Um país, uma paixão e cinco estrelas no coração!”

Inglaterra: “Jogando com orgulho e glória”

Itália: “O nosso azul no céu africano”

Japão: “O espírito do samurai nunca morre! Vitória para o Japão!”

México: “É o tempo de um novo campeão!”

Nigéria: “Super Águias, supertorcida unidos estamos”

Nova Zelândia: “Chutando no estilo Kiwi”

Paraguai: “O leão guarani ruge na África do Sul”

Portugal: “Um sonho, uma ambição: Portugal campeão!”

Sérvia: “Jogue com o coração, lidere com um sorriso!”

Suíça: “Força, Suíça! Vamos, Suíça!”

Uruguai: “O sol brilha sobre nós. Vamos Uruguai!”

5 por 1

Madrugada como a de hoje é 1 em 365 (ok, 366 em ano bissexto). Fechamos cinco casos, isso mesmo, cinco casos policiais fortes, que renderam repercussão.

Tudo começou com a prisão de um bandido que invadiu a residência de um casal de idosos, na Mooca, zona leste de São Paulo, e o agrediu. Dois conseguiram escapar.

O crime foi por volta das 20hs do dia anterior. Eu chego na delegacia do Belém/Brás à 1h. Com o gravador com as pilhas “arriando”, faço um falso ao vivo com o delegado (coisa rara delegado gravar durante a madrugada) e coloco no ar. Ufa. Um pronto.

Durante a entrevista o escuta liga e diz que tem uma nova ocorrência, um pouco longe, no primeiro distrito policial de Santo André. Um homem procurado, suspeito de matar um executivo no começo do ano, é detido dirigindo um Passat velho. Quando chego por lá, por volta das 2hs, toda a imprensa já está a postos. Devagarzinho, devagarzinho, no meio daquela “muvuca” de policiais militares consigo encontrar o soldado que estava na ocorrência. Gravei via celular, porque neste momento as pilhas do meu gravador já morreram, e o segundo caso está fechado.

(Logo depois, ocorre a coletiva com esse policial, mas como já havia fechado minha entrevista, participei como cinegrafista, isso mesmo, um repórter de rádio com uma filmadora na mão, mas com um bom propósito: ajudar um de nossos colegas que está fazendo freela).

Conversas sobre maquiagem para lá, conversas de como pentear o cabelo para lá (sim, os repórteres de TV conhecem bem o assunto) surge uma nova pauta: quadrilha invade o Carrefour da Vila Jacuí e fazem 10 funcionários reféns. Questionamentos: “Meu, onde fica mesmo o 63º DP”? “Zona leste.” “Putz, longe... mas o caso é bom”. “Vamos”.

Quando saía da delegacia de Santo André em direção à ZL, o escuta – graças a Deus – consegue o número do celular do tenente da PM responsável pelo caso. “Vamos entrar ao vivo na RB, tenente?” “Claro”. Ou seja, entrevista ao vivo por telefone e terceiro caso solucionado.

Mas quem disse que a madrugada acabou? Pois bem, volto à redação e vejo o escuta da TV um pouco nervoso, um pouco chateado. “Cara, roubaram a nossa equipe da madrugada na porta do Carrefour. O “mala” levou a câmera (+/- 250 mil reais) e alguma coisa do repórter e do cinegrafista”. O quarto caso está aí. Ainda bem, nenhum dos dois amigos não ficaram feridos.

E o quinto? Bem, esse fechei pela redação mesmo. Um menino de nove anos foi vítima de uma bala perdida durante troca de tiros entre “menores infratores” e policiais militares na região do Tremembé, zona norte. Não rendeu sonora, mas uma fonte na PM passou o caso e aí sim, acabou por hoje.

Acabaram as matérias, mas tive que entrar ao vivo no Datena às 10h20min e ficar na redação até as 13hs por causa da reunião da Copa do Mundo.

Isso é mais um dia na vida de um repórter... mas o repórter que falar que não gosta dessa correria, não é repórter de verdade.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Renato e Renato

Dois crimes. Duas pessoas. Dois nomes iguais. Destinos diferentes.

Renato de Holanda Bessa Junior tem 26 anos, morador de Boa Vista, capital de Roraima. Boa condição financeira - aliás, o pai é capitão reformado da polícia militar do Estado. Ele é atraído pelo dinheiro fácil e entra para o tráfico de drogas. Renato foi preso ontem à tarde após uma emboscada feita por policiais civis, que o seguiam há aproximadamente dois meses, transportando 100 quilos de cocaína no fundo falso da caçamba de uma caminhonete com placas de Maringá. Ele trazia os entorpecentes do Paraná e entregaria em São Paulo. O valor para realizar o transporte: US$10 mil. Destino: Cadeia.

Ouça

Renato Alves da Silva tem 31 anos, morador do bairro Guaianazes, na zona leste de São Paulo. Não tem uma boa condição financeira. Renato passou parte da vida na cadeia. Há três meses foi liberado. Como o outro Renato, esse aqui também é especializado em transporte, mas de passageiros. Todos os dias ele leva e trás várias pessoas entre o Jardim São Paulo e a Estação Corinthians-Itaquera do Metrô. Renato agora é motorista em uma cooperativa de ônibus da capital. Ontem à noite, logo após a última viagem, ele foi executado dentro da lotação em que trabalhava. O atirador fugiu. Destino: (...)

Ouça


*Esses foram os dois casos que cobrimos na madrugada do dia 17/05/10
** Com informações da polícia civil, militar e testemunhas

quarta-feira, 5 de maio de 2010

...depois da pauta... o papo

Este flagra é do repórter fotográfico JB Neto / AE. A foto foi tirada logo depois da entrevista com o delegado Carlos Alberto Delaye, do 92º DP (Parque Santo Antônio), que nos deu mais detalhes sobre a execução de um escrivão, da mesma delegacia, dentro de um bar no Capão Redondo.



A foto foi tirada exatamente na Rua Francisco Passarini, por volta das 2hs do dia 04/05/2010, um dia antes do meu aniversário de 23 anos, durante uma conversa informal na porta da igreja, que não sei o nome.

Na película temos o fotógrafo Lumi Zunica (Diário de S. Paulo), que ainda está fora da conversa (rs), Eliezer dos Santos (Rádio Bandeirantes), Gio "bunda" Mendes (Diário de S. Paulo), Rogerio Lacanna (Folha de S. Paulo), que está escondido, e Bruno Lupion (Jornal da Tarde).

Pois é, essa cena fez recordar o refrão "Acorda sangue bom, aqui é Capão Redondo, tru, não pokemon, Zona Sul é invés, é stress concentrado, um coração ferido, por metro quadrado..." (Vida Loka II / Racionais MCs)