quinta-feira, 22 de abril de 2010

Verbo: Engolir

Na madrugada da última segunda-feira fiz a história de um casal de colombianos que engoliu cerca de 70 preservativos cheios de cocaína. Estava de passagem pelo Brasil e tinha como destino Israel, mas a natureza falou mais alto e o plano foi por privada abaixo.

Na noite de terça-feira, uma estudante universitária foi atingida na boca durante tiroteio entre PM e bandidos em frente ao portão 10 do Parque Ibirapuera, perto da Assembleia Legislativa. Por incrível que pareça, a jovem engoliu a bala, literalmente.

No caso dos colombianos, os pacotinhos (que não eram tão pequenos assim) saíram naturalmente.

No caso da universitária, que passa bem, a polícia aguarda o projétil para analisar de onde o mesmo partiu: da arma do bandido ou do soldado. O resultado sai em aproximadamente 30 dias.

Silva Bueno x Lord Cochrane

No começo do mês sofri meu primeiro - e espero que seja o último - acidente automobilístico. Para não bater na lateral de um carro que entrou na contramão, fui obrigado a jogar o meu Celta na frente de outro veículo. Choque frontal. Baita burocracia. Seguro acionado. Carro da “vítima” concertado. O “terceiro” fugiu. Paguei a franquia (muito cara), mas melhor assim, porque ninguém ficou ferido.

Madrugada de quinta-feira (22/04) fui acionado para fazer a suíte de um acidente de trânsito no Ipiranga. Acidente feio envolvendo um ônibus e quatro carros. Duas mulheres não tiveram sorte.


Final da tarde de quarta-feira, 21 de abril de 2010, feriado nacional em memória a Tiradentes. Ao volante do Fiesta preto está Adriana Carvajal de Oliveira, de 45 anos. No banco do carona está a mãe, Piedade Carvajal, de 70 anos. No banco traseiro brincam um menino de 11 meses, um de 7 anos e uma mulher de 44 anos.

No mesmo momento, Antonio Pádua dirige um ônibus verde e branco, da viação ViaSul, número 51814. O veículo saiu da Praça do Correio, no centro, e tinha como destino o Terminal Sacomã, na zona sul.

Como o trânsito na cidade estava livre, Antônio aproveita para ganhar tempo e às vezes pisa um pouco mais forte no pedal da direita.

O veículo, com aproximadamente 10 passageiros, segue pela Rua Silva Bueno. Poucos metros de chegar ao cruzamento com a Lord Cochrane, o semáforo a sua frente fica amarelo. Antonio Pádua acelera. A luz vermelha do “farol” acende. Antonio Pádua continua com o pé no acelerador.

Em uma fração de segundos, aparece em sua frente o carro guiado por Adriana Carvajal. A mãe dela, que está à sua direta, apenas ouve o barulho de uma freada brusca. Mais nada. A motorista do carro ainda percebe quem a atingiu, mas também não consegue fazer nada além de um leve olha à direita, por instinto. Os médicos constatam a morte no local.

O ônibus, agora desgovernado, ainda destrói um Escort vinho e bate em um Renault Clio azul e uma Ford Ranger preta. Os três veículos estavam estacionados na altura do 1.640 da Silva Bueno, mas sem ocupantes.

No banco traseiro do Fiesta ainda há o desespero das duas crianças e da mulher. Os três são socorridos e levados às pressas à Santa Casa de Misericórdia, gravemente feridos.

Agora que cai a ficha de Antonio. Agora cai a ficha das testemunhas, que em um primeiro momento tentaram linchar o motorista do ônibus. O homem teve que ser levado não ao hospital, mas sim à delegacia de número 17, que fica próxima ao local do acidente.

Chego ao distrito policial por volta da 1h do outro dia, para fechar uma suíte do caso (dar um passo a frente na história). Do nada aparece uma testemunha no DP em um Fiesta, vestido com a camisa do SPFC, no qual gera uma entrevista.

Aguardo a saída do motorista Antonio Pádua, o que não ocorre com a presença da imprensa na porta da delegacia. Mas, óbvio, saiu. Com o pagamento de R$ 1.230,00 ele é liberado e responderá o processo em liberdade pelo homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

Ao lado da porta por onde passa o motorista do ônibus, na saída da delegacia, está estacionado o Fiesta preto, todo destruído.

O olhar é inevitável.

*texto baseado no relato de testemunhas.