domingo, 1 de março de 2009

O dia em que quase virei notícia

Fui ver um acidente de trânsito e quase aumentei a estatística.



Durante toda a noite da terça-feira, 24 de fevereiro de 2009, choveu na Grande São Paulo. Como de costume, muitos pontos de alagamento, congestionamento e tudo que os moradores da capital paulista já estão acostumados durante o verão.

Naquela tarde, a Mocidade Alegre havia sido campeã do grupo especial do carnaval paulista. Muita movimentação policial na porta da agremiação, na região do Limão, para conter pessoas que estavam acima do nível alcoólico permitido para o corpo. Como de costume, as coisa na porta da Mocidade acabaram em confronto com os PMs, que tiveram que usar gás de pimenta contra a multidão. Mas esse caso fechei apenas em texto e não precisei ir.

Na madrugada de quarta-feira, as ruas da capital ainda estavam com água. Como não gosto de dirigir com a pista molhada, estava com uma vontade enorme de conseguir fechar os casos por telefone, sem nenhum perigo.

Naquela noite estava atarefado porque tinha que fazer uma edição sobre o primeiro discurso do Obama no Congresso. “Nossa economia está debilitada e nossa confiança, abalada (...) Vivemos tempos difíceis e inseguros, mas, nesta noite, quero que todos os americanos saibam o seguinte: vamos nos reconstruir, vamos nos restabelecer. Os Estados Unidos sairão mais fortalecidos (...) blá, blá, blá, aplausos. Obama discursa com tom imponente diante do Congresso.

Sabendo ou não quem é Obama, o garoto R.P., de 13 anos, está querendo mesmo é dar um “role” de carro pelas ruas do centro de São Paulo, mas ele não tem carro e deverá esperar pelo menos mais cinco anos para tentar tirar a primeira habilitação. Menor + carro + chuva = a muita confusão, como diria o homem que narra as chamadas da “Sessão da Tarde”. E ele acertou.

“Tem um moleque de 13 anos lá no 12º DP (Pari) que foi pego dirigindo um carro roubado”, contou por telefone o rádio-escuta que trabalha durante a madrugada. E lá vamos nós. Na hora pensei que era o famoso, precoce e grande F., de 1,40 metro de altura, que já foi levado para a delegacia 10 vezes principalmente por furtar carros e tem uma ficha criminal maior que ele próprio. Mas não, desta vez era outro.

Segundo a polícia, R.P., que tem 1,50 de altura, foi detido por agentes da Guarda Civil Metropolitana depois de bater um Elba preto (o da foto) num poste na esquina das ruas Araguaia e Pascoal Ranieri.

O escrivão do 12º DP disse que o menino simplesmente viu o carro parado com uma micha no contato, entrou, ligou o carro, engatou a primeira marcha e acelerou. Alguns metros depois, tentou desviar de um caminhão, perdeu o controle do carro e bateu de frente em um poste. O adolescente ainda conseguiu desviar de um deles, com uma placa de C-E-T, mas não conseguiu sair da rota que levou a outro, que sustenta os fios de energia elétrica. Ferido ele ainda tentou fugir dos GCMs que viram o acidente, mas foi pego. Resultado: Um galo na cabeça, ferimentos no joelho e três pontos no queixo.

Mas antes de chegar ao DP, passei um dos meus maiores apuros. Saí do estacionamento que fica na rua Doutor Bruno José Pestana, entrei na contramão para acessar mais rápido a Avenida Morumbi. A partir daí Oscar Americano, Tajurás, ponte e avenida Cidade Jardim, túnel Max Feffer, Nove de Julho, túnel Anhangabaú, Prestes Maia, Tiradentes, Santos Dumont e Marginal do Tietê. “Quase chegando. Quase”.

A 70km/h, pronto para acessar a saída para o bairro do Pari, o inesperado. “Caramba, a entrada já é aqui”. Viro à direita, piso “levemente” no freio, mas o Gol responde mais agressivamente possível. Apenas ouço o barulho da roda derrapando, viro para direita, esquerda e o carro segue rumo a dois postes - um que sustenta os fios de energia elétrica e outro uma placa da C-E-T. O Gol 1,6 parece um cavalo bravo. Em um breve instante, tiro o pé do freio, mas já é tarde. Subo “numa velocidade” no canteiro da alça, o pára-choque bate na guia, e segue sem parar. Não sei como, mas por um breve instante consegui desviar e passar entre os dois pontes, em um vão de no máximo 2,50 metros. Saio do carro em baixo de chuva imaginando o estrago no pára-choque devido ao forte estrondo que ouvi quando nós fomos para a calçada. Mas nada. Absolutamente nada. Isso tudo num intervalo de quase 4 segundos.

Com 21 anos, 1,68 de altura e mais de dois anos de carteira, quase fiquei ferido como o adolescente de 13 anos, mas esses dois anos fizeram a diferença na hora do aperto.
Os pais de R.P. pegaram o garoto na delegacia e ficaram responsáveis em apresentá-lo na Vara da Infância e da Juventude. Como R.P. não foi pego em crime envolvendo "risco à vida de pessoa", como assalto à mão armada, ele não foi para a Fundação Casa, a antiga Febem. Nesse caso, acredito que o carro é considerado uma arma perigosa, mas na cabeça dos homens da lei, não.
Ah, espero nunca virar notícia.

6 comentários:

  1. Opa Eliezer, parabéns pelo blog! Qual foi o destino do garoto de 13 anos? Voltar às ruas, como menino "F"? Ah, e espero q vc vire notícia sim, mas das boas. :)

    Beijos!!!

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  2. Rapaz,

    Primeira lição qdo vc for entrar em uma rua diminua a velocidade e entre sempre em segunda marcha...hahahah
    E ai qual foi o preju?
    Muito bom o blog e fico entretido com os textos..rs

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  3. Nada...nenhum arranhão....até esse momento ninguém sabia...

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  4. Hahaha! O Diogo Patroni ensinando a montar em cavalo brabo? Não creio!

    Eliezer é você, Obama.
    Obama é você, Eliezer.
    Afinal,
    Você é Obama ou Eliezer?

    Vou montar um blog também.

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  5. Adorei a narração dos bastidores da notícia feito por vc, Zé. Vou te seguir!
    Bjooooo!
    Ah, meu níver semama q vem, quero vc lá!

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