terça-feira, 19 de maio de 2009

A preferida

Ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, é internada às pressas no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, depois de fortes dores nas pernas.



Na noite da última segunda-feira senti que um grande evento aconteceria durante a madrugada, mas como sempre pensei que era bobagem. Às 23h50 entrei no ônibus com destino ao trabalho. Antes de chegar à redação, passei no estacionamento e já reservei a viatura 545 – que normalmente uso – e a deixei estacionada no pátio da emissora. Aperto o botão do elevador, alguns segundos para “o mesmo” descer do 3º andar para o térreo. Quando abre, o chefe de edição. “Tudo bem? Vá à redação e sai de lá voando porque a Dilma está sendo encaminhada ao Sírio-Libanês. Ela passou mal à tarde e logo dará entrada no hospital”. Na menor, menor, menor e menor das hipóteses alguma pauta policial derruba essa. Imprimo algumas notícias e acelero em direção à Sociedade Beneficente de Senhoras – Hospital Sírio-Libanês, na Rua Dona Adma Jafet, número 91, Bela Vista, região central de São Paulo.

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, está tratando um linfona – câncer no sistema linfático – no mesmo hospital e realizou, até o momento, duas sessões de quimioterapia. Essa informação é que nos deixa com a pulga atrás da orelha. Será que as dores são reações ao tratamento? Trombose na região das pernas? O câncer voltou?

Cheguei por lá às 0h20, momento que a ministra sobrevoava alguma cidade no interior paulista. A turma da madrugada e outros repórteres já estavam por lá. Informações: escassas. Apenas o básico.

Na cobertura do vice José Alencar os jornalistas ficaram no saguão do hospital. Nesta terça-feira: negativo. Sem saber disso, um repórter de um grande grupo de comunicação entrou no Sírio-Libanês e se acomodou. A assessora de imprensa, ao invés de conversar e informar que os jornalistas deveriam ficar na “rua”, chamou logo os seguranças. Indignado, ele saiu. Minutos depois a mesma assessora foi cumprimentar o jornalista expulso, mas o gesto não teve retorno por parte dele. Assim, deu início a um bate-boca engraçado:

Repórter: Boba.

Assessora: Bobo é você.

Repórter: Sua babaca.

Assessora: Babaca é você.

Hilário.



“Passa tempo, tic-tac / Tic-tac, passa, hora / Chega logo tic-tac / Tic-tac, e vai-te embora / Passa, tempo / Bem depressa / Não atrasa / Não demora / Que já estou / Muito cansado / Já perdi / Toda a alegria / De fazer / Meu tic-tac / Dia e noite / Noite e dia / Tic-tac / Tic-tac / Tic-tac.”

2h30: uma movimentação de seguranças.

2h50: duas ambulâncias (uma da Unimed e outra que não consegui identificar) descem a Rua Barata Ribeiro e entram no espaço reservado à remoção dos pacientes. A movimentação ao redor dos veículos é grande. Nós não invadimos e esperamos a “ministra” desembarcar. O estranho: a informação que tínhamos era que a ministra faria o trajeto Brasília – Congonhas em um jato da Amil. “Por que raios uma ambulância da Unimed”? (a outra não tinha estampado o logotipo da Amil). Os médicos retiram da ambulância uma pessoa sobre a maca. Nenhuma foto conseguiu confirmar que aquela pessoa era Dilma. É nesse instante que o motorista do JT dá o alerta: um Vectra preto entrava pelo acesso lateral. Correria. Muita correria, mas sem sucesso (para nós). A ministra conseguiu despistar os jornalistas. Ninguém conseguiu a imagem.

Quarenta minutos depois o assessor de imprensa veio ao nosso encontro e divulgou o primeiro boletim médico:

“A Sra. Ministra da Casa Civil Dilma Rousseff apresentou dor de forte intensidade nos membros inferiores, necessitando de medicação endovenosa. A paciente deu entrada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, às 3h do dia 19 de maio, para a realização de exames. A Sra. Ministra submeteu-se a uma ressonância magnética que mostrou-se dentro da normalidade. Durante o dia de hoje (terça-feira) continuará submetendo-se a novos exames”. Assinam o boletim o diretor técnico do hospital, Antônio Carlos Onofre de Lira, e o diretor clínico, Riad Younes.

Muitas perguntas sem respostas.

5h15. Começa a correria das entradas ao vivo. São Paulo. Porto Alegre. Rio de Janeiro. As TVs armando os links.

Rendição, às 10hs. Fim do expediente. Da 0h20 às 10hs, nenhum médico conversou com a imprensa. A assessoria do hospital sabia menos que nós. Assim é difícil, mas a gente sempre dá um jeito.

Apenas às 11h30 o hospital divulgou o segundo boletim médico:
“A Sra. Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, segue internada no Hospital Sírio-Libanês desde a madrugada desta terça-feira (19/05), para tratamento de dores nos membros inferiores, causadas por quadro de miopatia. A paciente encontra-se estável com o uso de medicação analgésica”. Assinam o boletim o diretor técnico do hospital, Antônio Carlos Onofre de Lira, e o diretor clínico, Riad Younes.

TO BE CONTINUED ...

Você pode ler a matéria publicada no Estadão aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário